terça-feira, 30 de abril de 2024

Filme: elementos de uma economia planificada em Adeus, Lenin!




O filme Adeus, Lenin! (2003), de Wolfgang Becker, retrata o esforço de um filho em manter a saúde da mãe após ela ter ficado em coma por quase um ano, justamente durante as manifestações que tiveram como resultado a reunificação da Alemanha. Ao ser orientado a não submeter a socialista mãe fragilizada a novos traumas, Alex se esforça para reordenar o espaço e os objetos a sua volta para iludir a mãe sobre a continuidade da economia planificada da Alemanha Oriental. A diversidade de marcas capitalistas que ganhava visibilidade na Alemanha de então precisa ser reduzida e contida para representar a centralização produtiva e sua finalidade política. O consumo de informações é também limitado às encenações que remeteriam ao passado socialista, em sintonia com a ideologia do regime. A direção coletiva conferida ao trabalho e à ciência tem clara expressão na película e almejaria encontrar a homogeneidade no espaço. Parte importante deste filme provocativo se encontra justamente nas brechas entre uma proposta utopizada do espaço econômico planificado e as dificuldades da vida cotidiana de seus personagens.   

domingo, 28 de abril de 2024

Aula 8 - Geografia e a economia planificada



Na aula 8, foi tomado como tema a economia planificada e suas conseqüências para a produção do espaço. O Estado é a sua figura principal, enquanto o mercado concorrencial e a propriedade privada são significativamente reduzidos. O objetivo a ser perseguido é a homogeneidade do espaço, sendo necessário para isso colocar a decisão política em primeiro lugar, deixando por vezes a racionalidade econômica em segundo plano. Todos os espaços econômicos se mostram então subordinados ao projeto estatal.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Notas dos exercícios

 


As notas do exercício 1 (diurno e noturno) já podem ser conhecidas por este link. Os estudantes estão identificados apenas pelo número USP. 

domingo, 14 de abril de 2024

Aula 6 - Os sentidos da política e os recortes territoriais


Na aula 6, discutimos como os sentidos que atribuímos a política nos dias de hoje foram construídos historicamente no Ocidente. Democracia, participação, distrito, representação, serviços públicos, cidadania, controle das emoções entre outros princípios elementares da nossa visão de política, não são estáveis ou eternos. Observamos igualmente que, para cada mudança de sentido de política, novos recortes territoriais foram desenhados. Nesse sentido, colocamos que a política não deriva apenas do povo e das instituições públicas, mas deriva também dos sentidos que atribuímos aos territórios. Porém, a Geografia institucionalizada se organizava inicialmente em uma perspectiva útil ao Estado-Nação, mas sem contar com maior problematização ou definição do que responderia a política enquanto esfera do real...

terça-feira, 9 de abril de 2024

Filme: A geopolítica em Lawrence da Arábia (1962)


Lawrence da arábia - DVD 01 from antonio duailibe on Vimeo.

O filme Lawrence da Arábia (1962), dirigido por David Lean, é baseado na biografia do militar, viajante e arqueólogo T.E. Lawrence na Síria sob ocupação do Império Otomano, antes e durante a Primeira Guerra Mundial. Enviado pelo exército para prospectar elementos da cultura e do território como arqueologista em um primeiro momento, Lawrence vira peça importante em uma avaliação e mobilização de uma insurgência das forças árabes contrárias à ocupação turca, aliada do imperialismo alemão. Ao funcionar como conselheiro e dinamizador do levante árabe, Lawrence cumpre dupla função: facilitar a conquista do Canal de Suez com menor mobilização de forças e definir as condições para que o domínio inglês se constituísse no oriente médio no período que viria a seguir. Inspirada em fatos reais, os dados científicos, ideológicos, culturais e políticos são usados por um agente para promover rápida transição do equilíbrio de poder. De modo complementar, o livro e filme sobre a vida do personagem real são mobilizados décadas mais tarde como instrumentos ideológicos do nacionalismo/imperialismo inglês.  

domingo, 7 de abril de 2024

Aula 5 - A Geografia Política a serviço do Estado-Nação



Na aula 5 , investigamos as relações entre política e Geografia por duas vias. Em primeiro lugar, estudamos o paralelismo entre o desenvolvimento e racionalização dos serviços e do Estado-Nação e o próprio surgimento da Geografia Moderna. Servir ao Estado parecia ser a razão de ser da Geografia: sua utilidade justificaria sua existência, mesmo em meio às críticas pela superficialidade e falta de rigor metodológico. A Geografia fomentaria um grande sistema de informações que, junto com a participação de outros profissionais, viabilizaria a gestão do território. Estudos censitários, reconhecimento do território, mapeamento, levantamentos de campo, relatórios técnicos, regionalização, entre outras atividades, marcariam as tarefas dos Geógrafos de então. Em segundo lugar, destacamos o tema da geopolítica, tanto na escala do sistema mundial, quanto em outras escalas de ação. Tal tema não deve ser confundido com a Geografia Política, sub-campo da Geografia e matéria de discussão sistemática e conceitual de geógrafos. A geopolítica é um plano estratégico para alcançar um determinado objetivo em um período relativamente curto de tempo. O desenvolvimento de projetos geopolíticos envolve políticos, militares, movimentos sociais, cientistas e outros agentes políticos. A ideia é acelerar a mudança de uma determinada estrutura de poder, muitas vezes burlando os limites formais do sistema político vigente e relativizando a ética para alcançar os seus fins. Tentamos ver nessa aula como e em que circunstâncias a Geografia contribuiu direta e indiretamente para o desenvolvimento de projetos geopolíticos.

A Geografia no divã III

"We are never so helplessly unhappy as when we lose love" S. Freud.

A política era o objeto de desejo da Geografia, seu primeiro amor. Olhando para ela, a Geografia mudava as suas roupas, a sua linguagem, os seus atos. Muitas vezes, os movimentos dessa Geografia apaixonada eram contraditórios ou questionáveis do ponto de vista ético. Sem saber como se comportar, a Geografia acreditava que era preciso servir para ser reconhecida e apreciada. Para ficar perto da política, a Geografia não poupava esforços. Ciente desse fato, a política usava a Geografia para obter aquilo que queria: controlar e influenciar outras pessoas. Por vezes, os efeitos dessa subordinação eram pequenos, com a política usando a disposição da Geografia para organizar seus amigos. Por outras vezes, a Geografia era manipulada de forma mais explícita para justificar os atos mais extremos da política. A crise desse primeiro amor deixou a Geografia confusa, auto-destrutiva e introspectiva, tomando muitos anos de sua vida.