sexta-feira, 19 de abril de 2024

Notas dos exercícios

 


As notas do exercício 1 (diurno) já podem ser conhecidas por este link. As notas do período noturno serão lançadas em breve (desculpem-me pelo atraso). Os estudantes estão identificados apenas pelo número USP. 

domingo, 14 de abril de 2024

Aula 6 - Os sentidos da política e os recortes territoriais


Na aula 6, discutimos como os sentidos que atribuímos a política nos dias de hoje foram construídos historicamente no Ocidente. Democracia, participação, distrito, representação, serviços públicos, cidadania, controle das emoções entre outros princípios elementares da nossa visão de política, não são estáveis ou eternos. Observamos igualmente que, para cada mudança de sentido de política, novos recortes territoriais foram desenhados. Nesse sentido, colocamos que a política não deriva apenas do povo e das instituições públicas, mas deriva também dos sentidos que atribuímos aos territórios. Porém, a Geografia institucionalizada se organizava inicialmente em uma perspectiva útil ao Estado-Nação, mas sem contar com maior problematização ou definição do que responderia a política enquanto esfera do real...

terça-feira, 9 de abril de 2024

Filme: A geopolítica em Lawrence da Arábia (1962)


Lawrence da arábia - DVD 01 from antonio duailibe on Vimeo.

O filme Lawrence da Arábia (1962), dirigido por David Lean, é baseado na biografia do militar, viajante e arqueólogo T.E. Lawrence na Síria sob ocupação do Império Otomano, antes e durante a Primeira Guerra Mundial. Enviado pelo exército para prospectar elementos da cultura e do território como arqueologista em um primeiro momento, Lawrence vira peça importante em uma avaliação e mobilização de uma insurgência das forças árabes contrárias à ocupação turca, aliada do imperialismo alemão. Ao funcionar como conselheiro e dinamizador do levante árabe, Lawrence cumpre dupla função: facilitar a conquista do Canal de Suez com menor mobilização de forças e definir as condições para que o domínio inglês se constituísse no oriente médio no período que viria a seguir. Inspirada em fatos reais, os dados científicos, ideológicos, culturais e políticos são usados por um agente para promover rápida transição do equilíbrio de poder. De modo complementar, o livro e filme sobre a vida do personagem real são mobilizados décadas mais tarde como instrumentos ideológicos do nacionalismo/imperialismo inglês.  

domingo, 7 de abril de 2024

Aula 5 - A Geografia Política a serviço do Estado-Nação



Na aula 5 , investigamos as relações entre política e Geografia por duas vias. Em primeiro lugar, estudamos o paralelismo entre o desenvolvimento e racionalização dos serviços e do Estado-Nação e o próprio surgimento da Geografia Moderna. Servir ao Estado parecia ser a razão de ser da Geografia: sua utilidade justificaria sua existência, mesmo em meio às críticas pela superficialidade e falta de rigor metodológico. A Geografia fomentaria um grande sistema de informações que, junto com a participação de outros profissionais, viabilizaria a gestão do território. Estudos censitários, reconhecimento do território, mapeamento, levantamentos de campo, relatórios técnicos, regionalização, entre outras atividades, marcariam as tarefas dos Geógrafos de então. Em segundo lugar, destacamos o tema da geopolítica, tanto na escala do sistema mundial, quanto em outras escalas de ação. Tal tema não deve ser confundido com a Geografia Política, sub-campo da Geografia e matéria de discussão sistemática e conceitual de geógrafos. A geopolítica é um plano estratégico para alcançar um determinado objetivo em um período relativamente curto de tempo. O desenvolvimento de projetos geopolíticos envolve políticos, militares, movimentos sociais, cientistas e outros agentes políticos. A ideia é acelerar a mudança de uma determinada estrutura de poder, muitas vezes burlando os limites formais do sistema político vigente e relativizando a ética para alcançar os seus fins. Tentamos ver nessa aula como e em que circunstâncias a Geografia contribuiu direta e indiretamente para o desenvolvimento de projetos geopolíticos.

A Geografia no divã III

"We are never so helplessly unhappy as when we lose love" S. Freud.

A política era o objeto de desejo da Geografia, seu primeiro amor. Olhando para ela, a Geografia mudava as suas roupas, a sua linguagem, os seus atos. Muitas vezes, os movimentos dessa Geografia apaixonada eram contraditórios ou questionáveis do ponto de vista ético. Sem saber como se comportar, a Geografia acreditava que era preciso servir para ser reconhecida e apreciada. Para ficar perto da política, a Geografia não poupava esforços. Ciente desse fato, a política usava a Geografia para obter aquilo que queria: controlar e influenciar outras pessoas. Por vezes, os efeitos dessa subordinação eram pequenos, com a política usando a disposição da Geografia para organizar seus amigos. Por outras vezes, a Geografia era manipulada de forma mais explícita para justificar os atos mais extremos da política. A crise desse primeiro amor deixou a Geografia confusa, auto-destrutiva e introspectiva, tomando muitos anos de sua vida.

domingo, 24 de março de 2024

Comentários sobre os textos da aula 3

 


As dúvidas mais frequentes sobre os textos de Bauman e de Soja são discutidas aqui. 

sexta-feira, 22 de março de 2024

A Geografia no divã II



"Foi ela que começou!"

Poucos se lembram da influência da irmã mais velha da Geografia na formação de sua identidade. Boa parte dos trejeitos da Geografia estavam relacionados da sua irmã, a História, que tentou torná-la mais forte para encarar as lutas do dia-a-dia. Sempre que a Geografia fraquejava, corria a História para defendê-la. Muitas vezes, a História falava por ela: dizia o que a Geografia queria, o que ela precisava, identificava as suas forças e justificava pelas suas fraquezas. Nesse processo, a Geografia ficava um pouco sob o poder de sua irmã - seus limites eram definidos pela Outra.

domingo, 17 de março de 2024

Aula 3 - Riscos e oportunidades de uma periodização pós-moderna


A aula 3 fez uma provocação: podemos falar da pós-modernidade como um novo período histórico? Essa polêmica hipótese observa o acúmulo de registros das ciências sociais que apontam para uma crise da Grande Narrativa da Modernidade. De um modo geral, se argumenta que a universalização, homogeneidade, regularidade, cientificismo e racionalidade propostos pela Grande Narrativa se mostravam tão arbitrários e autoritários do que aqueles valores que regiam o mundo anteriormente à Modernidade.
Para os defensores do Período Pós-Moderno, há mudanças suficientes na economia, na cultura e na política que sustentam a busca de novas estruturas. Enquanto não há consenso sobre as formas e os sentidos dessas novas estruturas, resta uma enorme fragmentação. Nesse contexto, não cabe realizar grandes julgamentos dos registros, por mais variados que eles sejam. É preciso retomar a tarefa empírica do mundo e refletir sobre o seu reencantamento, sobre a sua nova humanização. Sobre os escombros da Modernidade, é possível multiplicar e diversificar os registros, que apontam para diferentes tempos e diferentes territórios.

sábado, 16 de março de 2024

Filme: Industrialização, urbanização e desumanização em Tempos Modernos



O filme "Tempos Modernos", dirigido e estrelado por Charles Chaplin (1936), é ilustrativo de diversas características associadas ao período da Modernidade. Primeiro, tem como pano de fundo a industrialização e a produção em série no início do século XX. Todos os trabalhadores são controlados pelos ritmos das máquinas (o próprio relógio que inicia o filme) e pela escala de produção. Segundo, toda a trama se constrói em um ambiente urbano, no qual todo o cotidiano dos trabalhadores é dependente de transportes motorizados, grandes distâncias a serem cumpridas e uma multidão de estranhos. Terceiro, a forma de explicar ou justificar o mundo é cada vez mais dependente de um discurso científico ou técnico, em detrimento dos discursos religiosos de outrora. Em respostas a essas características da Modernidade que desumanizam a todos (as ovelhas que são colocadas para ilustrar o deslocamento nos metrôs, a máquina para forçar a alimentação dos operários), vê-se adoecimento, greves, violência. Naquilo que se refere aos espaços, podemos ressaltar que a Modernidade pressupunha uma capacidade de planejamento e intervenção que eram desconhecidas até esse momento. Era preciso garantir que as cidades se tornassem verdadeiras "máquinas de morar", com deslocamentos acelerados e uma clara vinculação ao processo produtivo. 

sexta-feira, 15 de março de 2024

Comentários sobre os textos da aula 2

 


Ao longo dos últimos anos do curso de FESPG, algumas dúvidas têm sido levantadas sobre os textos de referência da aula 2. Aqui vão alguns esclarecimentos. 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Aula 2 - Modernidade e a influência da histoire des annales na Geografia



Na aula 2, discutimos a influência da histoire des annales no desenvolvimento da Geografia Moderna. Destacamos como, durante o momento inicial da Geografia, havia uma grande cumplicidade com a História. O movimento da histoire des annales iniciado por L. Febvre e March Bloch apresentava interesse na renovação temática e metodológica da História, procurando também em disciplinas vizinhas elementos para a sua própria renovação. A Geografia confiava na História uma parte da tarefa de desenvolver seus conceitos e encontrar seu lugar entre as ciências sociais. Nesse processo, historiadores como L. Febvre foram responsáveis por defender e difundir a Geografia em momentos importantes, inclusive na celeuma com a Sociologia de E. Durkheim e Mauss. Ao fazê-lo, conferiu-se um poder particular à História, que ganhava margem para definir aquilo que a Geografia poderia ou não fazer. A Geografia assumia limites de investigação que pareciam negociados com a História: "ciência do presente", empirismo, possibilismo, naturalismo, "estudo do que é fixo" eram formas de explicar a Geografia Tradicional Francesa que se encaixavam perfeitamente aos interesses da História.

domingo, 3 de março de 2024

AULA 1: Introdução, programa e cronograma do curso




O curso de Fundamentos Econômicos, Sociais e Políticos da Geografia se baseia em três premissas gerais: primeiro, é preciso encontrar uma identidade para a Geografia dentro do campo das ciências sociais; segundo, é absolutamente fundamental reforçar os nossos conhecimentos teóricos sobre áreas correlatas (economia, filosofia, sociologia, história, ciência política etc.) no intuito de facilitar a inserção da Geografia nos fóruns multidisciplinares; por último, é preciso pensar a Geografia como um conhecimento que procura debater seus conceitos, seus temas e suas teorias, relativizando a forte carga empírica que perpassa sua história. Para tanto, o curso se divide em 4 módulos fortemente conectados que procuram orientar a investigação dos fundamentos da nossa ciência. Os slides referentes a aula introdutória podem ser encontrados aqui. O programa do curso e o cronograma geral de leituras podem ser encontrados no seguinte link.

domingo, 19 de março de 2023

A Geografia no divã I


Colocamos aqui a Geografia no divã pela primeira vez, esperando que, dessa posição de vulnerabilidade, derive um novo autoconhecimento. Muitos são os sintomas do desconforto e do sofrimento dos formados em Geografia: as demais ciências sociais nos avaliam como deterministas, fetichistas, e, mais grave, irrelevantes e inconsistentes; nosso mercado de trabalho é diminuído e subestimado, tanto no que se refere à educação de nível médio e fundamental, quanto no que tange às consultorias e grupos multidisciplinares; não encontramos maior conforto ou segurança em nossos conselhos, associações ou órgãos de registro profissional; não temos domínio de nossas ferramentas mais elementares - conceitos, categorias, autores fundamentais; lamentamos a nossa ausência de grandes projetos, de movimentos inovadores, de tudo o que parece relevante para o mundo. Igualmente séria é nossa dificuldade de comunicar e de defender nossas posições. Nos fechamos em nossa área, traumatizados de confrontos anteriores. Continuamos acreditando que nos basta existir para nos justificar. Nos perdemos em delírios de grandeza ou em surtos paranoicos de perseguição. Agimos como indivíduos autistas, presos em nosso mundo interior e repetindo sempre as mesmas rotinas.  Damos aqui o primeiro passo do nosso curso/sala de análise - reconhecemos que a Geografia tem problemas de identidade e de comunicação que impedem o seu desenvolvimento. Procuraremos encontrar as nossas raízes, as origens de nossos traumas, os indivíduos castradores do nosso desenvolvimento, as nossas falhas de personalidade.