Surgidas no mesmo período histórico, Geografia, Sociologia e Antropologia dividiam objetos, conceitos e ambições semelhantes. Para os efeitos dessa analogia, eram como primos - buscavam fontes e abordagens na Filosofia e na História. Os desenvolvimentos cognitivos de qualquer um deles era rapidamente observado e comparado com os dos outros dois, seja por uma legítima preocupação de seus pais, seja pela mais pura vaidade.
A Sociologia se mostrava uma jovem ciência particularmente desinibida: era forte, ativa, falava alto e não se furtava em tentar coagir as duas outras crianças a seguir as suas vontades. A Antropologia, por sua vez, se mostrava um pouco mais tímida, mas apresentava grande sensibilidade e poder de comunicação, além de ser reconhecida pela sua inteligência e individualidade. A Geografia era nova, carente e "boa moça" - mais do que as demais, a Geografia era aquela criança que quer agradar aos pais, ao Estado - sem ser particularmente forte, sensível ou inteligente.
Desde o primeiro momento, o puxa-saquismo da Geografia-criança foi perseguido pela Sociologia voluntariosa. Como suportar aquele grau de carência, aquela mediocridade? Sua prima precisava sofrer: no parquinho, na escolinha e na cantina, a Geografia sentia a ação da Sociologia. De início, a Antropologia se sensibilizou: durante breves momentos, andou junta com a sua prima mais vagarosa. Quando percebeu que aquilo era inútil e que a Geografia-criança tentava agradar também a sua agressora, a Antropologia a abandonou.
Excluída pelos seus pares, a Geografia se desenvolvia quase que de forma autônoma. Não queria ser comparada, queria ser aceita. A busca da proximidade das figuras de poder (pais, professores, chefes) se tornou a sua principal estratégia, mesmo que, para isso, assumisse posturas inadequadas e que fossem contraditórias com suas tradições mais antigas.
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